quinta-feira, 28 de junho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O CANDIDATO INGÊNUO


O candidato ingênuo

Candidato, vocábulo que deriva de cândido,  puro, íntegro. Quem dera a maioria correspondesse a essa etimologia... A  ingenuidade de muitos candidatos a vereador se desfaz quando, convidado a  concorrer às eleições, acredita que, se eleito, não será “como os outros”  (quantos não disseram isso no passado e hoje...) e prestará excelente serviço  ao município.
O que poucos candidatos desconfiam é que  servem de escada para a vitória eleitoral de políticos que eles criticam. Para  se eleger vereador, deputado estadual ou federal, é preciso obter quociente  eleitoral - aqui reside o pulo do gato.
A Câmara Municipal comporta de 9 a 55 vereadores, de  acordo com a população do município. Cândidos eleitores imaginam que são  empossados os candidatos que recebem mais votos. Ledo engano. João pode ser  eleito ainda que receba menos votos do que Maria. Basta o partido do João  atingir o quociente eleitoral.
Vamos supor que o município tenha 6.000 eleitores.  Destes, 1.500 deixaram de votar, votaram em branco ou anularam o voto. São  considerados válidos, portanto, 4.500 votos. Como a Câmara Municipal tem 9  vagas, divide-se o número de votos válidos pelo número de vagas. O resultado  dá o quociente eleitoral: 500 votos. Todo candidato que obtiver nas urnas 500  votos ou mais, será eleito vereador.
É muito difícil um único candidato obter, sozinho,  votos suficientes para preencher o quociente eleitoral. Casos como o do  Tiririca são raros. A Justiça Eleitoral soma os votos de todos os candidatos  do mesmo partido, mais os votos dados apenas ao partido, sem indicação de  candidato.
A cada 500 votos que o partido recebeu, o  candidato mais votado vira vereador. Se o partido obteve 1.500 votos, ele  terá, na Câmara Municipal, três vereadores. Os demais candidatos, que  individualmente receberam menos votos do que os três empossados, ficam como  suplentes. E o partido que obtiver menos de 500 votos, neste exemplo, não faz  nenhum vereador.
A lei permite que um partido apresente um número de  candidatos até uma vez e meia o número de vagas na Câmara. Se o partido se  coliga com outros partidos, a coligação pode apresentar candidatos em número  duas vezes superior à quantidade de vereadores que o município comporta. Para  uma Câmara que comporta 9 vereadores, cada partido pode ter 14 candidatos, e  cada coligação, 18. Esta a razão pela qual os partidos lançam muitos  candidatos. Quanto mais votos os candidatos obtêm, mais chance tem o partido,  ou a coligação, de atingir o quociente eleitoral. E, portanto, de eleger os  candidatos com maior votação individual.
Ora, se você pensa em ser candidato, fique de olho.  Pode ser que esteja servindo de degrau para a ascensão de candidatos cuja  prática política você condena, como a falta de ética. Enquanto não houver  reforma política, o sistema eleitoral funciona assim: muitos novos candidatos  reelegem os mesmos políticos de sempre!
Se você é, como eu, apenas eleitor, saiba que escolher  o partido é mais importante que escolher o candidato. Votar de olho somente no  candidato pode resultar, caso ele não seja eleito, na eleição de outro  candidato do partido. Como alerta o sóciologo Pedro Ribeiro de Oliveira, “mais  frequente, porém, é a derrota e a frustração de pessoas bem-intencionadas, mas  desinformadas. Ao se apresentarem como candidatas, elas mobilizam familiares,  amigos e vizinhos para a campanha. Terminadas as eleições, percebem que sua  votação só serviu para engordar o quociente eleitoral do partido ou da  coligação... Descobrem, tarde demais, que eram apenas ‘candidatos  alavancas’”.
Convém ter presente que o nosso voto vai,  primeiro, para o partido e, depois, para o candidato.
São raríssimos casos como o da manicure Sirlei  Brisida, eleita vereadora em Medianeira (PR) com apenas 1 voto. Seu  partido, o PPS, concorreu nas eleições de 2008 com nove candidatos. Pelo  quociente eleitoral, apenas Edir Moreira tomou posse. E se mudou para o PSDB,  acompanhado pelos outros sete suplentes. Sirlei, que adoeceu durante a  campanha eleitoral, e não pediu votos nem à família, permaneceu filiada ao  PPS. Agora, a Justiça Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido, no  caso, ao PPS. Edir foi cassado e Sirlei, empossada.

Orientações da CNBB para o ano Eleitoral



ORIENTAÇÕES DA CNBB PARA O ANO ELEITORAL

O  bispo auxiliar de São Paulo e secretário-geral da CNBB, Dom Odilo Pedro Scherer, fala do documento  “Eleições 2012 - Orientações da CNBB”.
Dom Odilo, há pessoas, dentro e fora da Igreja que pensam em separado Igreja e política. Dizem até: a Igreja não deve se envolver em coisas de política. O que dizer sobre esta mentalidade?
Dom Odilo Pedro Scherer (D. Odilo) - A Igreja, como Instituição, não vai indicar candidatos nem vai estar neste ou naquele partido. Porém os cristãos são membros da sociedade e, enquanto cidadãos, são sujeitos políticos e não deixam de fazer política, quer participando ativamente, quer se abstendo. A abstenção do processo político  também é atitude política, porque significa deixar seu espaço para outros. Recordo a palavra recente do papa Bento XVI, na encíclica Deus caritas est: Não dá para separar demais a fé da política.  A fé bem vivida tem implicações políticas porque pleiteia um certo modo de viver e de conviver em sociedade, ou seja, uma atitude política. A observância dos mandamentos da lei de Deus e o reconhecimento de Deus, como Pai de todos os seres humanos, sem distinção, não podem deixar-nos indiferentes em relação a tudo o que acontece ao nosso redor. Requerem a proposta de um modelo de convivência social, de modelo de economia e de política  econômica, a defesa da vida e da dignidade da pessoa, a defesa da família, a justiça social, a liberdade...
Em clima eleitoral, lembramos  as Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006, no parágrafo 169, em que se lê:  “A participação política dos católicos se inspira numa dupla fidelidade: à própria natureza da política, realidade criada por Deus e dotada de legítima autonomia, e à própria vocação cristã, iluminada pela palavra do Evangelho “ Pode comentar um pouco isto, Dom Odilo?
D. Odilo -  A fidelidade a Deus é expressa na consciência e nas nossas decisões interiores; mas também na coerência de nossa vida diária com o desígnio de Deus sobre este mundo. O Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo contemporâneo, afirma algo muito sério: que o cristão não deve se abster de participar da construção deste mundo de acordo com os valores da justiça, da solidariedade e da fraternidade. Não deve se refugiar num nível abstrato de vivência espiritual, sem cumprir os seus deveres como cidadão deste mundo. Se o fizesse, estaria falhando gravemente com seu dever e até pondo em risco sua salvação eterna, porque estaria faltando a caridade para com o próximo e seu dever para com Deus. Isso é muito forte! Quer dizer que a participação dos cristãos na construção da sociedade não deve ser vista como uma coisa opcional e separada da religião. Não dá para pensar em  praticar a fé, sem o empenho em participar na construção do mundo como Deus quer. Muitas vezes lamentamos, que as coisas vão mal; mas precisamos fazer a nossa parte e unir nossas vontades e esforços em torno de um projeto que conduza para o bem.
O papa Paulo VI, na Carta Apostólica Octogesima Adveniens, afirmava: “A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única - de viver o compromisso cristão a serviço dos outros” (Octogesima Adveniens, 46).  Podemos dizer que este compromisso cristão é nosso e dos políticos? Os bispos, padres e religiosos não são partidários. Qual é então a missão da Igreja no campo político?
Dom Odilo– Se o padre ou bispo toma partido diante da comunidade, isso acaba criando divisões na própria comunidade. A Igreja sempre orienta que os seus representantes estejam acima dos partidos.
Qual é a missão da Igreja no campo político?
D. Odilo - A Igreja, como Instituição, deve ajudar a fornecer critérios éticos para as escolhas e a ação política: a justiça, a solidariedade, a dignidade humana, o respeito à pessoa, a defesa e a inclusão dos membros mais frágeis e desprotegidos da sociedade; coerente com isso, a Igreja ensina que a política não deve ser o processo de afirmação dos grandes egoísmos, nem da cultura de morte, nem das discriminações. Por outro lado,  é papel da Igreja a formação da consciência ética e o estímulo para que os cristãos leigos e leigas participem ativamente da política, como cidadãos deste mundo.
A CNBB está lançando um documento de Orientações para as Eleições de 2012. Qual o conteúdo destas Orientações para os cristãos?
Dom Odilo – Primeiramente, lança-se um olhar sobre a realidade brasileira e mundial; colocam-se em evidência evidência as grandes questões que deveriam ser objeto do debate e das preocupações políticas e iluminar as escolhas dos eleitores; fala-se das grandes necessidades e demandas sociais, das questões que deveriam merecer a atenção especial dos governantes e legisladores. A Campanha eleitoral deveria servir para promover grandes debates sobre o que é importante para o Brasil, qual rumo o Brasil deveria tomar, que projeto de Nação  deveríamos ter em mente. Depois, à luz da ética e daquilo que nós acreditamos, apresentam-se critérios para avaliar os projetos e os candidatos a cargos executivos e legislativos, para ver se eles vão colocar as grandes questões nos seus programas de governo e de atuação no Poder Legislativo. Em terceiro lugar, este documento apresenta algumas sugestões para a organização e a ação do povo para participar do processo político de maneira mais efetiva.
Há também recomendações para os candidatos?
D. Odilo – Sim, os candidatos que queiram o apoio do povo, devem confrontar-se com uma série de questões, que são elencadas no documento.
Como foi a  elaboração deste texto de orientações para o ano eleitoral?
Dom Odilo - O texto foi elaborado e discutido pelo Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) e, novamente, pelo Conselho Permanente da CNBB, que o aprovou e decidiu sua publicação. O texto está disponível nas Livrarias e pode também ser encomendado através do CPP, Centro de Pastoral Popular (0800-61-2226 ou 61 -32484166; www.cpp.com.br     E-mail: cpp@cpp.com.br).
(Fonte: CNBB)